quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tomates no espinafre!


Estava eu tranqüila em minha mesa, desfrutando alegremente de minha rotina estagiária, quando de repente surge à minha frente uma funcionária com um brilho estranho nos olhos, desses que costumam acompanhar uma ilustre descoberta.

Da forma abrupta em que abriu a porta e pelas veias saltadas em seu pescoço, não seria difícil presumir que ela diria:

- Finalmente descobri a Pedra Filosofal! Agora o universo será meu! Há Há Há... (Leia-se risada maligna).

Porém, no lugar desse devaneio imaginado pela minha mente fantasiosa surge uma pergunta:

-Alguém neste departamento come espinafre!?!

Todos permaneceram inertes, reticentes, imaginando qual seria o motivo dessa estranha interrogação.

Bom, pra quebrar o gelo, ou por curiosidade mesmo, arrisquei levantar a mão, acompanhada por outra funcionária que também admitiu consumir a verdura.

Mas, qual foi nossa surpresa quando recebemos um olhar de reprovação seguido de um:

-Geeenteee! Então eu tenho uma coisa pra contar pra vocês!

Seriamos suspeitas de algum crime?

Eloquente ela prosseguiu:

- O espinafre é nocivo! Entrem na internet! Procurem no google e vai aparecer uma lista de sites falando dos malefícios dessa verdura.

- E quais são? Arrisquei.

- Ele tem um ácido “sei lá eu o que” (Perdão leitores, não me lembro nome) prejudicial à saúde, além disso, absorve todo o cálcio do corpo. Existem até pesquisas realizadas pela USP. O espinafre é um vilão! Não tem nada a ver com a força do Popeye! (Tá, mas isso a gente já sabia).

Fiquei em silêncio por alguns instantes sem saber o que pensar...

Oh Deus! Todos esses anos de espinafre com ovos mexidos preparados com carinho pela mamãe me fizeram mal?

Teria minha mãe feito parte de algum complô para envenenar-me?

Certamente não. Ou se tentou, não obteve êxito.

Quando a funcionária se foi, certamente para anunciar a “boa nova” ao restante da empresa, tentei puxar pela memória a morte de algum conhecido, ou personagem televisiva envenenado pela verdura. Talvez algum artigo, ou reportagem...

Não me lembrei de nada.

É claro que depois pesquisei sobre o assunto e tive acesso a algumas pesquisas e realmente existem teses sobre os efeitos nocivos do espinafre (eu disse teses).

Por ora, a recomendação dos especialistas é que a verdura seja jogada em água fervente e que seu suco verde seja descartado antes do consumo, pois neste líquido está o tal ácido supostamente nocivo.

O que eu ainda não entendi é o motivo da reação alarmante.

Ora, ora... Se fossemos engatar uma campanha para boicotar o espinafre, também teríamos que boicotar a salsicha, os refrigerantes, as frituras, fast foods e todas as outras coisas que já sabemos fazer mal (sem precisar de teses).

E os banhos quentes de mais de vinte minutos?

E a novela das nove?

Tá viajei.

Mas eu ainda sigo a máxima de que tudo em excesso faz mal.

Alguém aqui arriscaria comer uma tonelada de espinafre por falta de ferro no sangue?

Acho que não.

Aliás, já está na hora da janta e o que teremos?

Ovos?

Não, não. Eles têm colesterol e também a tal da Salmonela.

Humm...Talvez um peixinho grelhado?

Não, estudos revelam que os peixes têm muitas toxinas.

Frango?

Mas eles têm hormônios!

Espinafres?

Acho que vou tomar um banho quente de vinte minutos e ir dormir.

O segredo das mega-stores

Qualquer pessoa que freqüente grandes livrarias, principalmente essas de Shopping Center, pode perceber que de uns tempos pra cá estão equipadas com café, áreas pra leitura, salas de projeção, cybers, etc.

Uma gama enorme de produtos e uma multidão de gente passeando.

Isso quer dizer que as pessoas estão lendo mais?

Ou tudo isso faz parte da lógica de mercado?

As duas coisas?

Será que dessa forma as pessoas que passeiam pela loja sentem-se mais confortáveis e tentadas a comprar algo?

Na verdade não sei qual o motivo e, confesso não me importar muito.

O fato é que não sinto a mínima vontade de procurar um livro em meio a fileiras intermináveis de seções e prateleiras, onde quase sempre as atendentes não sabem nada sobre um autor, gênero, ou lançamento, tornando impossíveis recomendações ou indicações deixando os clientes totalmente perdidos.

Sinto-me em um hipermercado.

Bate-me a nostalgia de uma época não vivida (já nasci na geração mega store). Época das pequenas e aconchegantes livrarias, com poucos e bons títulos. Onde provavelmente o proprietário realmente apreciasse literatura e fizesse boas recomendações.

Ainda se pode encontrar essa atmosfera em alguns sebos e algumas poucas lojas específicas sobre quadrinhos e outros gêneros...

Enfim, sinto saudade de uma pequena e boa livraria.

E você?