sexta-feira, 30 de julho de 2010

GLOBALIZAÇÃO BUGRE?


Nos últimos tempos, durante minha labuta diária ouço ao longe durante horas a fio o som de flautas de bambu “requentando” inúmeros sucessos da música popular mundial, dando-lhes uma roupagem um tanto quanto... chata? Algumas versões até bonitas, outras por vezes maçantes.

Ora, mas quem são os autores dessas louváveis releituras?

São os índios equatorianos em apoteótica turnê pelo Brasil.

Ontem mesmo ouvi uma senhora, aparentemente de classe abastada dizer encantada à amiga que a acompanhava:

-Acho lindo eles apresentarem sua cultura indígena pelas praças das principais metrópoles!

Mas esperem! Vamos destacar um trecho na frase acima!

“Sua cultura indígena”

Leia-se “Cultura dos índios equatorianos”, certo?

Errado.

Os índios oriundos do Equador não cantam sequer uma música folclórica do seu país, tampouco se vestem como tal. Os mesmos utilizam uma típica indumentária dos índios norte-americanos nas apresentações e exibem uma coreografia mista, sincretizando rituais de várias tribos ao redor do mundo, difícil até identificar as influências.

Às vezes acontece de tocarem algo genuinamente indígena, mas também oriundo dos indígenas norte-americanos. Porém, como disse a priori, a maioria das músicas são versões “aflautadas” da música pop. Quem quiser conferir é só comprar os CDs vendidos a quinze ou vinte reais durante as apresentações, ou então parar para escutá-los em uma das praças onde estão.

Na verdade, não sei o que pensar disso tudo.

Não tenho opinião formada.

Culpa dos pobres indígenas?

Dificilmente.

Se expusessem seu próprio folclore alguém compraria seus CDs? Ou mesmo pararia para ouví-los?

O que me vem à mente quando os vejo com suas fisionomias melancólicas e suas vestes coloridas em meio a todo esse inferno cinza, é uma espécie de sentimento de culpa.

Nós os sufocamos na nossa aldeia global.

E agora olha eles aí tentando se adaptar e sobreviver a nossa maneira, homogeneizando o que sobrou de uma cultura assassinada, juntando cacos, retalhos, e vendendo pra nós, que outrora manchamos de sangue os seus clãs e que agora de passagem pelas praças achamo-los formidáveis! Assim como a senhora citada acima.

Quem sabe compraremos um CD?

Uma forma de retratação?

Não creio.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

TRILOGIA SUJA DE HAVANA


“Fui enxotado do jornalismo porque fui cada vez mais ficando visceral. E as pessoas viscerais não são muito apreciadas. Se você tiver idéias próprias, precisa entender que vai encontrar continuamente caras fechadas, gente querendo questionar, diminuir você, ‘fazer compreender’ que você não tem nada a dizer, ou que deve evitar aquele fulano por que é louco, ou veado, ou um verme. Eles reduzem o mundo a umas poucas pessoas híbridas, monótonas, tediosas e ‘perfeitas’. E assim querem transformar você num merda.”



Pedro Juan Gutiérrez

quarta-feira, 9 de junho de 2010

IGUALDADE



Cheguei cansada do meu “todo dia” e me pus a videar o que estava disponível na TV, e lá estava alguém de campanha eleitoral com o velho argumento da igualdade.

Igualdade...

Igualdade...

Como assim igual?

Igual como?

Qual o parâmetro pra se uniformizar algo ou alguém e considerá-lo igual?

Não que eu ache isso ruim, pelo contrário, entendo perfeitamente a boa intenção de alguns que a proclamam.

Na essência acho tudo muito bonito.

Mesmo assim, essa palavra não me soa confortável...

Acredito que muitas vezes essa tal igualdade significa imposição de valores, códigos... Enfim, disseminação da mesmice.

Ter o mesmo comportamento socioeconômico diante das diferenças, banalizá-las como algo menor não as iguala, mas sim, reproduz o que a humanidade sempre faz com as minorias, segregados e excluídos: o extermínio de suas peculiaridades.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Mais do mesmo


Bom, já faz tempo que ando me sentindo em débito com vocês leitores e não é à toa. O fato é que pra escrever algo neste espaço preciso de algo que me impressione, cause indignação, ou mesmo curiosidade.

Como vocês podem perceber, não tem acontecido nada tão extraordinário a ponto de me despertar esse tesão de escrever.

Ando a sofrer da síndrome “Mais do Mesmo”. Sim, a crise é recorrente admito, mas confesso que nunca tinha persistido tanto tempo. Por isso resolvi escrever baseada no próprio desânimo e de quebra explicar o motivo da indiferença que me toca.

Há um tempo pensei em escrever sobre várias coisas, entre elas, sobre política, assunto que certamente da muito pano pra manga para alguns, o que nunca foi meu caso.

Então, você pode perguntar: Jornalista que não vê graça em política?

Respondo.

Não. Ultimamente, menos ainda, justamente por conta do “Mais do Mesmo”.

Explico.

Posso estar errada, mas, a política do país sempre teve uma mecânica muito previsível, um modo de ser que acaba refletindo em todo o resto.

Essa semana li um artigo que falava exatamente sobre essa mecânica.

O articulista dizia que a maioria da população brasileira é acomodada e gosta de levar vantagem em tudo.

De fato, a gente sempre pode presenciar uma situação que ilustra bem isso, seja quando um caminhão de carga tomba e é saqueado, em tentativas de suborno ao ter cometido uma infração, ou ainda em coisas mais simples como escarros nas ruas, os empurra-empurras nos transportes públicos, entre outros absurdos.

Na política a coisa não é diferente. Desvios de dinheiro, obras superfaturadas e etc.

Mas o que me chamou a atenção no artigo foi o autor dizer que a razão de tudo isso é o efeito espelho, ou seja, do ponto de vista dele a população é assim por que recebe o mau exemplo dos políticos.

Discordo.

Para mim, acontece justamente o contrário. Os políticos são reflexos de uma sociedade falida e não o contrário.

De qualquer forma, como disse no começo desse texto, isso não me causa um pingo de espanto, pois esse círculo vicioso não é de hoje e se reflete em todos os aspectos de nossas vidas.

Antes pensar nessas coisas me causava uma puta revolta, eu externava, debatia e gritava aos quatro cantos que não precisa ser assim, por que esse “Brazilian way of life” está na faculdade, no trabalho, em casa e tudo mais, não dá pra fugir.

Nunca deu resultado. E nós inconformados de plantão ainda levamos má fama.

Broxei.

Às vezes penso que acabei adquirindo essa doença que ataca a sociedade desde tempos imemoriais. E no patamar que estamos já nem adianta mais antídoto.

Nossa esperança reside apenas no desenvolvimento de uma vacina (que pode ser implantada nas escolas) pra proteger nossas crianças dessa síndrome alienadora.

Síndrome “Mais do mesmo”.