Nos últimos tempos, durante minha labuta diária ouço ao longe durante horas a fio o som de flautas de bambu “requentando” inúmeros sucessos da música popular mundial, dando-lhes uma roupagem um tanto quanto... chata? Algumas versões até bonitas, outras por vezes maçantes.
Ora, mas quem são os autores dessas louváveis releituras?
São os índios equatorianos em apoteótica turnê pelo Brasil.
Ontem mesmo ouvi uma senhora, aparentemente de classe abastada dizer encantada à amiga que a acompanhava:
-Acho lindo eles apresentarem sua cultura indígena pelas praças das principais metrópoles!
Mas esperem! Vamos destacar um trecho na frase acima!
“Sua cultura indígena”
Leia-se “Cultura dos índios equatorianos”, certo?
Errado.
Os índios oriundos do Equador não cantam sequer uma música folclórica do seu país, tampouco se vestem como tal. Os mesmos utilizam uma típica indumentária dos índios norte-americanos nas apresentações e exibem uma coreografia mista, sincretizando rituais de várias tribos ao redor do mundo, difícil até identificar as influências.
Às vezes acontece de tocarem algo genuinamente indígena, mas também oriundo dos indígenas norte-americanos. Porém, como disse a priori, a maioria das músicas são versões “aflautadas” da música pop. Quem quiser conferir é só comprar os CDs vendidos a quinze ou vinte reais durante as apresentações, ou então parar para escutá-los em uma das praças onde estão.
Na verdade, não sei o que pensar disso tudo.
Não tenho opinião formada.
Culpa dos pobres indígenas?
Dificilmente.
Se expusessem seu próprio folclore alguém compraria seus CDs? Ou mesmo pararia para ouví-los?
O que me vem à mente quando os vejo com suas fisionomias melancólicas e suas vestes coloridas em meio a todo esse inferno cinza, é uma espécie de sentimento de culpa.
Nós os sufocamos na nossa aldeia global.
E agora olha eles aí tentando se adaptar e sobreviver a nossa maneira, homogeneizando o que sobrou de uma cultura assassinada, juntando cacos, retalhos, e vendendo pra nós, que outrora manchamos de sangue os seus clãs e que agora de passagem pelas praças achamo-los formidáveis! Assim como a senhora citada acima.
Quem sabe compraremos um CD?
Uma forma de retratação?
Não creio.